Os dias tem sido apressados. Chegam antecipados, com informes frenéticos e em excesso se espalham pelas telas atentas que nos tomam de assalto. Dias que nos empurram sem delicadeza e nenhuma educação, até bambearmos as pernas, até que absorvamos todas as manchetes, até secarmos a saliva, até a paralisia, até que o medo se erga cínico. São dias de mentira, mal pintados, mal tecidos, que falseiam! Mostram-se obscuros, pelo simples prazer de sufocar.
De onde vieram, ostentando um estandarte mofado, roto, malcheiroso de velhos tempos? E como podem estar apressados, ao mesmo tempo em que deixam em evidência o desejo de retrocesso?
Os dias tem sido serenos. Chegam sem pressa e, silentes, aguardam nossos movimentos. Dias de delicadeza, que atraem nossos passos para longe das telas, até que absorvamos todos os movimentos do céu, até compreendermos as sementes, até sentirmos o coração, fermentado pela confiança, se avolumar. São dias de descobertas, de surpresas e encantamentos que não falam de verdades, nem de mentiras - não falam. Mostram-se exuberantes pelo simples fato de serem o que são. De onde vieram, ostentando olhares doces, artes que enlevam, pássaros, flores, abraços e o frescor da eterna brotação? E como podem estar serenos, ao mesmo tempo em que deixam em evidência o desejo de serem observados sem desatenção?
Entro num dia, saio n’outro.
Entre o entrar e o sair, conexões, redes com os iguais, ligações com os opostos.
Todos os dias estão em mim, em nós, das noites aos dias, dias às noites
Todos os dias a caminho, passo a passo, no tempo e fora dele, de mãos dadas e invisíveis.
Todos os dias que construímos são um só e cabem nesse segundo.
"Seja o que for que chamemos realidade, ela só nos é revelada através de uma construção ativa da qual participamos". - Ilya Prigogine
Andiana Freitas é musicista, professora de música, artesã, técnica em informática e apaixonada por bicicleta.