Texto de Nina Veiga
É preciso encontrar outros modos de viver nos difíceis tempos contemporâneos. O que fazer para suportar condições tão adversas como as que estamos vivendo e não sucumbir ao esgotamento?
O fato é que ela estava esgotada. Sim, estava. Era um esgotamento quase crônico, tipo síndrome de burnout. Aquela patologia definida como cansaço extremo, tanto físico, quanto psicológico e emocional, especialmente, em relação ao trabalho. Pois ela tinha a impressão de que estava trabalhando o dobro para receber apenas a metade. E não era o caso de mudar de emprego ou reivindicar melhores condições de trabalho. Ela era o trabalho, ela era o empregador, ela era o funcionário.
Alguém que conhecia havia lhe dito para fazer aquilo que mais gostasse, que a energia vinha daí. Ao que ela respondeu: faço o que mais gosto. Por educação, a pessoa não lhe questionou, mas podia ter perguntado: então, por que está esgotada? Garanto que não questionou, mas pensou. E tenho quase certeza de que o leitor, assim como eu, também nos perguntamos. Afinal, se ela faz o que mais gosta, se é seu próprio patrão, um sonho para muitas pessoas, então por que está esgotada?
O fato é que ela estava esgotada. Sim, estava. Sentia aquela fadiga constante. O maior problema é que apesar de todo o esforço, todo o empenho, sentia uma falta de condições materiais, psicológicas e emocionais no próprio trabalho, e o serviço tinha de continuar sendo realizado, ou seja, ela não podia parar. Intuía, mas não conseguia perceber e identificar a armadilha, na qual havia caído.
Assim, a questão se arrastava. Ela precisava trabalhar mais, para ganhar menos. Mesmo assim, não conseguia pagar suas contas mais simples, e ainda precisava investir um valor maior do que antes para continuar gerando algum rendimento. Um círculo vicioso e complexo.
O fato é que ela estava esgotada. Sim, estava. No entanto, ela fazia o que mais gostava. Conversava com as pessoas sobre isso, via que muitos estavam assim como ela: esgotados. Tinha quem atribuísse o problema à crise econômica que tornava tudo muito mais difícil, haja vista que o dinheiro circulava menos e as despesas, taxas e juros só faziam crescer. Havia também quem culpasse o espírito da época: tempos difíceis, forças adversas, energias dispersoras. Outros, mais certeiros, identificavam o vilão nos modos de ser do sistema capitalista.
O fato é que estava esgotada. Sim, estava. Vez ou outra sucumbia, mal conseguia levantar da cama. Depois, prosseguia. O tempo implacável e acelerado passava cada vez mais rápido trazendo com ele ainda mais esgotamento. Ela se perguntava: o que fazer? Foi quando me perguntou e eu ao leitor: o quê?
Nina Veiga segue a compor mais um livro: "POR UMA ESTÉTICA DA VIDA VIVA". Quem apoia seu canal no Youtube, ou contribui com o Catarse, faz parte de um grupo de leitores que podem acompanhar a edição de pertinho, criticando e sugerindo. Faça parte do grupo de apoiadores:
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